quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O pesadelo em uma noite de sonhos.

O relógio batia onze horas.

Faltava uma hora para o ano acabar e Laís ainda estava começando a se arrumar para a grande virada.
- Paula, me ajuda aqui a escolher o vestido! – disse Laís nervosa com a falta de tempo e a imensidade de coisas que ainda tinha que fazer antes da meia-noite.
- Num dá Laís. Ainda tenho que escolher o meu também.
A correria estava grande naquele apartamento, apesar de só estarem as duas amigas nele.
Do banheiro Paula pergunta:
- Laís, você foi hoje falar com sua mãe?
- Não! Por quê? Passei o dia inteiro no escritório. Não deu tempo. Ela piorou? – respondeu Laís com cara de espanto.
- Acho que não. Mas estou com uma impressão estranha. Como se alguma coisa ruim fosse acontecer.
- Nossa! Vira essa boca pra lá. Hoje eu só quero diversão. E além do mais, mamãe deu uma melhorada, não foi?!
- Ih, não sei! Mas eu não sou médica pra dar diagnóstico, né?!
- Ah, isso é verdade. – Laís respondeu sorrindo e com dois vestidos na mão.
O quarto estava uma bagunça. Caixas de sapato espalhadas pelo chão, roupas e jóias jogadas por toda a cama. E Laís enrolada numa toalha entre toda aquela bagunça.
Paula saiu do banheiro e quando chegou ao quarto abriu a boca espantada.
- O que aconteceu aqui? Antes de entrar no banho o quarto estava em ordens e agora parece que um tornado passou por aqui. Laís, você ainda não escolheu o vestido?
- Acho que vou vestir este verde. O que você acha?
- É, ele é bonitinho. – respondeu Paula saindo do quarto da amiga e indo em direção ao seu.
- Bonitinho?! – Laís gritou – É só isso que você diz?
- É lindo Laís! Tá bom assim, sua histérica?!
As duas riram e Laís voltou a virar o guarda-roupa de cabeça pra baixo a procura de outras coisas que não se encontravam no chão ou em cima da cama.
- Paula, e mamãe? Agora tô pensando nela. Ela está bem, não está? Já até levantou da cama hoje, não foi?!
- Sim, sim. Ela está melhor e já levantou da cama mesmo. Isso é a prova da melhora, certo?!
- Que bom! – respondeu Laís mais aliviada.
Paula chegou pronta, vestida, penteada e maquiada, no quarto de Laís. E a amiga ainda nem o vestido tinha colocado.
-Laís, eu já tô pronta e você nem o vestido colocou ainda! – bradou Paula.
- Calma amiga – falou Laís - você sabe que eu demoro muito pra me vestir.
Paula afastou umas coisas de cima da cama, se sentou e ficou esperando a amiga se vestir, apressando-a. Em cima do criado-mudo havia um porta-retratos com a foto de Laís e sua mãe.
- Laís, você ainda vai à casa da sua mãe hoje?
- Não, só amanhã. Vou ficar por aqui mesmo. – respondeu Laís calçando as sandálias – você acha que mamãe está realmente melhor?
- Às vezes acho que sim, às vezes acho que não. Mas se hoje ela até já levantou da cama, acho que ela esteja melhor sim! – respondeu Paula pegando o porta-retratos.
- É isso mesmo! Temos sempre que pensar positivo, ser otimistas até o fim.
- Você sabe que eu considero sua mãe como se fosse minha segunda mãe, mas ainda estou com um sentimento ruim.
- Aff..., vamos esquecer isso. Não vai acontecer nada com mamãe. Ela está melhor e deixa eu acabar de me arrumar porque já vai dar meia-noite.

O relógio bateu onze e meia.

Tudo estava bastante agitado. Já se ouviam alguns fogos de artifício. Havia muita gente na rua indo em direção a praia, muita movimentação, muita expectativa, muita festa.
-Laís, liga pra sua mãe!
-Por que Paula? Já liguei pra ela hoje pela manhã.
-Não sei. Mas liga. Agora!
Nervosa Laís pegou o telefone e discou o número da casa de sua mãe.

Onze e quarenta e cinco.

A multidão aumentava drasticamente.
- Pronto, já liguei! Tá tudo bem, ela só está um pouco cansada.
- Acho que isso não é um bom sinal! – exclamou Paula apreensiva.
- E o que você entende de medicina e de recuperação pós-trauma, Paula? – gritou Laís, que já estava ficando mais nervosa com a conversa da amiga.
- Não entendo nada, mas ainda estou com um pressentimento ruim.
- Ai Paula, cala a boca e me ajuda aqui com esses brincos, porque já estamos atrasadas pra encontrar com o pessoal na casa do Rô.
- Eu só vou pra casa dele quando virar o ano – respondeu Paula levantando da cama e ajudando a amiga com os brincos e o cabelo.
...
- Paula, esse tipo de premonição que você está sentindo é sobre o que, realmente?
- Não sei bem, mas é algo relacionado com a sua mãe. E não é bom. Pra falar a verdade eu sonhei com ela morrendo.
- Você ta me deixando preocupada. – falou Laís paralisada e com a mão na boca.
- Eu também estou ficando muito preocupada.
- Mas mamãe está bem! Só um pouco cansada e isso é o que importa. Vamos pensar no melhor, ela até já se levantou da cama hoje, não foi?!
- É, mas ainda estou com medo e com meu coração apertado.
- Paula, cala a boca! Que insistência nesse assunto. Você quer que eu fique aqui chorando? Poxa, eu só quero me divertir um pouco e esquecer os problemas e todo esse sofrimento. Será que eu não mereço isso, pelo menos só por hoje?

Onze e ciquenta e cinco.

A rua já estava totalmente tomada de gente, que vinha de toda parte. Gente de todos os tipos, raças e crenças, que se uniam em uma grande e única comemoração.
- Paula, cadê você? Faltam só cinco minutos para o ano acabar! Vem logo!
- Tô indo, só um minutinho.
- Traz a champanhe e as taças.
- OK, tô pegando!

Meia-noite.

Gritos de comemoração, fogos de artifício explodiam no céu, música alta e muita alegria tomavam conta, não só nas redondezas, mas também no mundo inteiro.
- Feliz ano novo amiga! Tudo de bom pra nós duas. Muita paz, saúde, felicidades, dinheiro e um amor, né?!
- É isso mesmo, Lá. Tudo de bom pra nós. Que esse ano que está começando seja especialíssimo pra nós e pra quem amamos.
- Um brinde ao novo ano e a nossa felicidade.
As duas ergueram as taças, brindaram e abraçaram-se.
Depois do brinde o telefone tocou. Era o pai de Laís...

O que Paula tanto temia e sonhara, acabara de se realizar...

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